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Abstract

Inteligência artificial é uma parte da história da medicina, afirma Paula Basilone

Paula, de jaleco de medicina, com manchete "a AI tem a capacidade de compilar a história do paciente mais rápido que o médico"

A inteligência artificial tem se consolidado como uma ferramenta indispensável na medicina moderna, e Paula Basilone, fundadora da Marie.AI, está na linha de frente dessa transformação. Doutora em neurofisiologia, pesquisadora da USP, médica em formação e vencedora de prêmios como o Mercosul AI e o AI Awards UK, ela combina experiência acadêmica com visão empreendedora para implementar soluções que ampliam a eficiência no atendimento médico e na pesquisa científica.

 

Durante a pandemia, a Marie.AI foi implementada em municípios brasileiros que enfrentavam desafios para lidar com a crise provocada pela Covid-19, em um contexto no qual a infraestrutura de saúde era limitada. No primeiro ano, a plataforma impactou 32 mil pessoas e, desde então, vem demonstrando seu potencial para aplicação em situações críticas, como pronto atendimentos, onde a capacidade de compilar dados em segundos favorece diagnósticos e medidas preventivas.

 

Para o futuro da IA na medicina, a pesquisadora prevê avanços significativos em desenvolvimento de medicamentos e tratamento de doenças como o câncer. Segundo ela, o uso da inteligência artificial acelera processos que antes levavam décadas, como ocorreu no desenvolvimento das vacinas de RNA.

 

Paula Basilone é speaker confirmada para a próxima edição do AI Health Frontiers, realizado pela Connext Health. Nesta entrevista, ela compartilha os desafios, aprendizados e visões para os próximos anos, destacando que a tecnologia vai complementar a atenção prestada pelos profissionais da saúde. “Agora existe um entendimento maior que a IA não vai dominar o emprego, mas que ela é só mais uma ferramenta. Ela é parte de uma história dentro da medicina.”

 

Connext Health — Como começou a sua relação com a inteligência artificial?


Paula Basilone — Eu comecei a estudar a área de inteligência artificial, em 2015 na área de computação. Fiz doutorado e agora eu estou no curso de medicina. Basicamente, eu comecei a estudar as teorias. Durante esses estudos, aprofundei meus conhecimentos em uma das áreas exploradas por Geoffrey Hinton, envolvendo autômatos, que também eram parte do meu foco, e a área generativa.

 

O mais interessante nessa jornada é que, dentro da Universidade de São Paulo, eu acabava desenvolvendo essas teorias, só que eu também trabalhava em startup. Então, eu sabia um pouco do cenário, como utilizar isso em startup, e, também, como ampliar isso dentro da academia. Nesse processo, surgiu o projeto da Marie, que eu fui levando adiante, ampliando a plataforma com dados e, quando foi em 2020, aquilo que era um projeto de pesquisa virou uma startup.

 

Connext Health — Como foi esse início da startup?

 

Basilone — Eu implementei municípios, que foi onde ajudou, né? Em 2020, estávamos no início da pandemia. Eu falo, às vezes, a gente faz coisas que a gente nem pensa, né? Hoje, pensando nisso, uma coisa que eu fizesse errada, não precisava ser muito, eu já tinha arrebentado toda a minha carreira, porque era um modelo novo, um monte de gente iria me criticar. Ainda não tínhamos o ChatGPT naquela época. E eu estava aplicando num cenário de saúde.


Em agosto de 2020, eu fiz uma reportagem sobre o projeto, foi quando os secretários entraram em contato comigo. Eram municípios menores, nos quais não chegam os testes PCR. Aí, eu sentei com os médicos e, pra você ver, os médicos foram extremamente receptivos. Como a plataforma era muito fácil para ser usada, expliquei via call e começaram a usar. Assim, a plataforma começou em agosto de 2020. Só no primeiro ano, ela cobriu mais de 32 mil pessoas. Mas eu estava muito dedicada e tinha um ponto que é o que eu falo: quando o médico está disposto a usar tecnologia, ele entende que isso não vai substitui-lo. Naquele momento, os médicos estavam mais preocupados com o que estava acontecendo.

 

É só olhar a complexidade do que é um pronto atendimento. É muito corrido, são muitas variáveis. Cada paciente, quando chega num pronto-socorro, a gente já está falando de algo muito grave. Então, não é só um IA que vai resolver aquilo, é uma integração. A partir dali, o médico começou a ver o quanto que a tecnologia melhorava também o serviço que ele estava prestando ali, a sua dedicação para o paciente.

 

Connext Health — E, agora, como você essa relação entre a medicina e a IA generativa?

 

Basilone — Implementamos a Marie. De repente, chegou 2022 com muitos questionamentos que são válidos sobre a IA generativa, mas eu vi que teve muita barreira por um tempo. E agora existe um entendimento maior que a IA não vai dominar o emprego, mas que ela é só mais uma ferramenta. Ela é parte de uma história dentro da medicina. Se a gente olhar, a medicina é milenar. Eu vou me formar, vou morrer, outras pessoas vão morrer, e a medicina sempre vai existir. E ao longo dela você vê várias evoluções tecnológicas. Ela nunca vai deixar de estar presente.

 

Eu tive algumas barreiras, mas eu acho que são compreensíveis, porque você está falando de um público altamente especializado. E o médico é formado para ser questionador. Então ele vai questionar, é natural. Mas também quando ele enxerga o benefício, aí ele usa. Por exemplo, um dos pontos da Marie que é importante com a inteligência artificial é que a gente fala de prevenção dentro do pronto-socorro. É um cenário totalmente diferente, que a gente não espera. Nem existe tempo para trabalhar prevenção em pronto atendimento. Mas com a ferramenta a gente já encontrou casos de Alzheimer precoce dentro de pronto-socorro. A gente já achou questões, por exemplo, vamos falar de paciente idoso. Ah, ele chegou com uma fratura grave, mas qual foi a origem? A gente percebeu que era um AVC.


Imagine, chega num pronto-socorro um idoso com uma fratura exposta na cabeça do fêmur. O que você vai olhar primeiro? Você faz uma tomografia de cabeça só para ver se não tem nenhuma fratura no crânio e, também, para ver se não tem uma questão de sangramento, alguma coisa assim. Até porque o primeiro olhar que você vai fazer é o cirúrgico. Nesse tempo aí, vai analisando tudo o que está acontecendo. Quando o médico sai dali, ele já tem um olhar geral. O pronto-socorro sempre vai dar uma visão holística do paciente. O problema é que a gente tem pouquíssimo tempo, mas muitos exames são realizados. Esse é o poder da IA apoiando o médico.

 

Connext Health — Quer dizer, essa grande quantidade de exames que é realizada gera muitas informações, e, na configuração normal de um pronto atendimento, nem sempre existe tempo e capacidade para analisar todos esses dados, né?

 

Basilone — Sim, porque a IA tem a capacidade de compilar a história do paciente em um tempo muito curto, o que é impossível para o médico fazer. Eu lembro no HC que chegava cinco pastas enormes de prontuário antes de você ver o paciente. Como você vê tudo aquilo? Com uma IA, é possível analisar melhor essas informações. Por exemplo, com a Marie fizemos um teste com um paciente que tinha 30 mil dados entre imagens, exames etc. Ela fez isso em 14 segundos. Esse é o poder da IA. E o que ela entregou o que para o médico? Olha, esse paciente tem características de doenças crônicas, como AVC (já tinha histórico), é um paciente com insuficiência cardíaca também. São esses detalhes que, quando o médico tem na mão, facilita o atendimento. É um tempão valioso, também, às vezes, nem o paciente nem o médico vão se lembrar de algum ponto.


E o mais importante é que esse tempo fica para ele fazer avaliação da pessoa, fazer outras perguntas. Ou seja, é um tempo que ele pode dedicar para fazer uma evolução mesmo do histórico: eu já sei o seu passado (até um dia antes, certo?) e agora quero saber o seu hoje. O que você tem de diferente? Como está a sua alimentação? Ou seja, existem outras coisas que acabam se perdendo e a gente não tem informação porque o médico ou o paciente precisam ficar retornando para esse histórico.

 

Connext Health — E quais são as perspectivas quando a gente olha daqui para frente? O que você projeta para os próximos cinco a 10 anos?

 

Basilone — Eu acho que a gente vai ter um avanço em medicamento. Se a gente pensar no antibiótico usado hoje, não tivemos evoluções significativas. Hoje você tem a tuberculose super resistente. E estamos num consumo muito alto de antibiótico. No Brasil, enfrentamos um problema sério de automedicação, que está interferindo nos tratamentos, com aumento da resistência entre as bactérias. Outra questão que eu acho que a gente vai ter um avanço no tratamento do câncer.

 

Connext Health — Tudo isso com a aplicação da IA?

 

Basilone — Eu acho, porque a gente começa a fazer modelagem. Vamos pensar no desenho experimental para um medicamento. Antes, eu tinha que ficar anos e anos vendo qual era a possível via. Eu tenho que arriscar, tentar um micro RNA ou uma enzima. Ou seja, eu tinha que fazer vários testes durante a pesquisa científica para identificar. Quantas pesquisas a gente vê que vão testando. Entre as possibilidades, existem caminhos que aparentam ser mais promissores para iniciar. Depois, faz-se uma série de testes (em animal e em fases clínicas). Basicamente isso leva 10, 15 anos. O que eu vejo de diferente? Hoje, a gente tem uma capacidade de fazer um levantamento bibliográfico real de toda a literatura. Eu consigo escolher essas moléculas mais rapidamente. Enzima, seja micro RNA, o que for. Eu consigo pegar essa enzima e fazer a modelagem dela e posso simular isso no computador.

 

Eu vou te dar um exemplo: durante a Covid, um pouco antes, eu prestei serviço para uma das farmacêuticas que estavam fazendo o medicamento. Teve coisas que a gente fez para a vacina em si, que foi questão de um mês de simulação. Foi escolhida várias moléculas e foram feitas várias simulações. Já tínhamos isso em 2020. Vamos parar para pensar a vacina da Covid: quanto tempo se demorava para fazer uma vacina? Foi muito rápido. As vacinas de RNA basicamente foram aceleradas pela simulação. Tivemos essa amostra em 2020, 2021. Só que agora esses algoritmos estão mais avançados e a gente tem uma capacidade maior de hardware.

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