Com pouco mais de dois anos de mercado, a healthtech Sami já recebeu mais de R$ 200 milhões em investimentos. A startup foi criada para viabilizar o acesso a planos de saúde de qualidade, contemplando, principalmente, microempreendedores individuais (MEIs) e pequenas e médias empresas (PMEs).
Hoje, a Sami já atende cerca de 16 mil pessoas, mas planeja chegar a 30 mil até o fim deste ano. Outra meta, para 2023, é elevar o faturamento de R$ 60 milhões para, pelo menos, R$ 120 milhões. Para isso, o CEO da healthtech, Vitor Asseituno, aposta em modelo de atendimento que combina atenção primária e cuidados preventivos.
Recentemente, a Sami garantiu o aporte de R$ 90 milhões em nova rodada de investimentos liderada pelo Redpoint eventures e pelo Mundi Ventures. A captação dá sustentação à meta estabelecida para o ano de 2023.
O modelo de negócios da startup tem como alicerce a interoperabilidade na saúde, um sistema de gestão que facilita a conexão e o compartilhamento de dados entre diferentes atores que atuam nos atendimentos (médicos, hospitais, empresas e laboratórios, por exemplo). A solução está baseada no padrão Fast Healthcare Interoperability Resource (FHIR), estabelecido pela Health Level 7 (HL7).
Na entrevista a seguir, Asseituno compartilha a sua visão sobre o futuro da Sami e da inovação na área da saúde.
Connext Health — Qual é a sua análise sobre o mercado para as healthtechs?
Vitor Asseituno — Esse mercado é proporcionalmente desafiador à importância que tem para a população. Precisa de soluções rápidas e sólidas. Por isso, é crucial o papel das healthtechs na missão macro de atender a demanda por saúde (no Brasil e no mundo), e de forma inovadora, mas sustentável.
Não à toa, só nos últimos cinco anos, as healthtechs receberam mais de US$ 992 milhões em investimentos, segundo relatório HealthTech Report 2022, da Distrito, que mostrou, ainda, que há mais de mil startups desenvolvendo soluções voltadas à área da saúde no país.
A Sami, por exemplo, já recebeu mais de R$ 200 milhões em investimentos. As startups de saúde só tendem a continuar avançando, acompanhando a aprovação da população que, com um impulso dado pela pandemia, se aproximou mais do digital e passou a reconhecer suas vantagens.
Fizemos uma pesquisa que revelou que 91,1% dos MEIs e das PMEs de São Paulo apoiam total ou parcialmente o uso de tecnologia na área da saúde. A maioria (67,4%) afirma aprovar totalmente o modelo pela eficiência que ele gera ao setor como um todo, bem como a praticidade e agilidade no atendimento e diagnóstico, fatores que impactam diretamente os pacientes. Outros 23,7% disseram apoiar parcialmente, mas só por não conhecer bem ainda os benefícios dessas práticas.
Connext Health — Qual é a importância da conexão entre as grandes empresas de saúde e as healthtechs?
Asseituno — A saúde privada no país vem apresentando uma piora significativa. Já vemos com frequência grandes e tradicionais grupos anunciando até mesmo a venda de imóveis próprios para frear o endividamento. Neste cenário, não há como as grandes empresas dissociarem suas estratégias de crescimento — e sobrevivência — das várias soluções trazidas pelas healthtechs.
Os números estão aí para demonstrar que o uso da tecnologia na saúde é viável e é o melhor caminho para trazer a sustentabilidade que o setor precisa. Na Sami, por exemplo, 95% dos atendimentos são digitais, e o Customer Satisfaction Score (CSAT), que é a pontuação de satisfação do cliente, do Time de Saúde chegou a 95%, em março.
Creio que agora seja um momento de fortalecimento das “novidades” que ganharam destaque na pandemia, como a telemedicina. Vejo um movimento dos players tradicionais em busca dessas novidades — especialmente junto às healthtechs, que já nasceram nesse ambiente digital.
Connext Health — E quais são as tecnologias mais estratégicas, ou promissoras, para as startups de saúde desenvolverem?
Asseituno — Vejo muitas empresas levantando dados, já entendendo a importância deles, mas não os utilizando de fato no dia a dia — seja para recalcular a rota, planejar o crescimento, evitar desperdícios etc.
Tomando como exemplo a interoperabilidade, que trouxemos ao Brasil de forma pioneira (apoiada no padrão internacional HL7 FHIR), aposto no uso inteligente de dados na busca por soluções sustentáveis ao setor.
Ao interoperarmos com hospitais parceiros, por exemplo, promovemos um intercâmbio de dados de pacientes, o que agiliza os diagnósticos e aumenta a eficiência dos cuidados sem que nenhuma informação importante se perca entre uma consulta e outra, e sem que haja desperdício com a repetição de exames. E isso tem potencial para fomentar ainda toda a cadeia de saúde que pode ter acesso a casos e utilizar em estudos e pesquisas — e tudo dentro da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Além disso, acho fundamental olharmos para o básico, que é o modelo de saúde. Na Sami, temos como pilar importante a atenção primária à saúde. Mesmo entendendo o grande desafio que é promover a mudança de cultura no país, trouxemos para cá esse modelo utilizado no Canadá, na Inglaterra, Alemanha e Holanda, que alia ciência, tecnologia e comprometimento humano para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Por meio do aplicativo da Sami, o paciente contata seu time de saúde — formado por médico, coordenador e enfermeiro — que é sua porta de entrada. E o resultado disso? A resolutividade dos casos já chega a 80% só com atenção primária à saúde. Esses exemplos servem para mostrar como a tecnologia associada ao modelo assistencial correto pode tornar realidade a nossa visão do futuro (agora presente) da saúde.
Connext Health — Qual o seu sonho grande para a Sami e para o mercado da saúde?
Asseituno — Possibilitar que o maior número de pessoas tenha acesso a saúde de qualidade, no Brasil e no mundo. Apesar de a Sami ter pouco mais de dois anos de existência, num cenário no qual apenas 22% dos brasileiros têm acesso a um plano de saúde, saber que, dos cerca de 16 mil membros Sami, 75% não tinham plano de saúde até nos contratar sinaliza que estamos no caminho certo.
A tecnologia só tem valor se beneficia a vida das pessoas. Enquanto alguém no mundo não tiver acesso à saúde de qualidade, tem trabalho para nós e para outras healthtechs para que possamos encontrar maneiras inovadoras de viabilizar o acesso à saúde de qualidade.
Connext Health — Quais são as metas da Sami para 2023?
Asseituno — Após fecharmos 2022 com um faturamento de R$ 60 milhões, neste ano pretendemos chegar a faturamento entre R$ 120 milhões e R$ 150 milhões, com cerca de 30 mil membros. Para isso, temos investido em avanços tecnológicos que fortalecem nosso modelo de negócio, que é voltado a oferecer cuidado integral aos pacientes, com time de saúde formado por médico(a) de família, enfermeiro(a) e coordenador(a) — à disposição via aplicativo, teleconsulta ou presencialmente. O objetivo é não só tratar as doenças, mas também atuar na prevenção e orientação. Esse desenho assistencial diferenciado é nossa principal estratégia de produto, e temos utilizado tecnologia de diversas formas para alavancar o trabalho desses profissionais e o acesso a eles.
Connext Health — Hubs globais de saúde, como a Connext Health, atuam para conectar startups às empresas que buscam soluções inovadoras e, muitas vezes, específicas. Qual é o impacto desses hubs para o setor?
Asseituno — Acredito que esse é o caminho para que as empresas (startups e tradicionais) e o setor como um todo ganhem força e consistência ante os inúmeros desafios que a saúde nos impõe. Esse conceito permite a troca de conhecimentos, de experiências, para que todos evoluam e amadureçam rapidamente.
Ninguém tem todas as respostas ou é o mais competente em todas as suas habilidades. Facilitar a troca de experiências, soluções e conhecimento faz com que o setor evolua mais rápido para cumprir a sua missão.
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