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Abstract

Não se pode mais ignorar a aplicação da IA na saúde, destaca Dr. Guilherme Salgado

Foto do escritor: Marina SchmidtMarina Schmidt


Guilherme usa camiseta preta, com 3778 (nome da sua startup) na frente. Manchete diz que "AI deve integrar prática no fluxo de trabalho"

A inteligência artificial na saúde “é inexorável — todos irão usar”, afirma o médico do trabalho e CEO-founder da 3778, Dr. Guilherme Salgado, que tem observado de perto como essa tecnologia está transformando o setor.


Especializado em perícia médica pela Fundação Unimed e em medicina do trabalho pelo Hospital das Clínicas da UFMG, Salgado ressalta que não se pode mais ignorar a utilização da IA na saúde. “É como dirigir sem GPS: você pode até chegar, mas vai se perder no caminho”, compara.


Para ele, 2025 será um ano intensificar o aprendizado prático e as aplicações de IA. Uma das tendências é a expansão de iniciativas de Software as a Service baseadas em inteligência artificial. O impacto da tecnologia é inquestionável, como demonstram os resultados alcançados pela startup 3778, que dobrou de tamanho com 20% do número de colaboradores de antes. “Isso só foi possível devido aos últimos avanços em IA.”


Palestrante confirmado no AI Health Frontiers, Salgado antecipa sua visão sobre como a IA deve gerar na área da saúde nos próximos anos e alerta: profissionais e instituições que ignorarem o potencial da IA podem ficar para trás em um cenário de transformações inevitáveis.

 

Connext Health — Como a inteligência artificial vai impactar a saúde nos próximos cinco a 10 anos?


Dr. Guilherme Salgado — Mais lento que os entusiastas gostariam e mais rápido que os céticos acreditam. Difícil falar em qualquer coisa, hoje, para cinco a 10 anos, ainda mais sobre IA. Existem mais incertezas que certezas. Mas tentando trazer alguns pontos destaco quatro áreas práticas: atividades administrativas e transacionais em saúde; suporte a decisão; conteúdo e informação; biotech e robôs.


Nas atividades administrativas e transacionais em saúde, destaco tanto a parte burocrática de perda de tempo (famosos 30, 40 e 50% do tempo que médicos e hospitais dedicam para processar as “contas médicas”) quanto a questão da jornada do paciente no que tange a parte administrativa (agendar consulta, acesso aos dados, concierge, compartilhamento de informação). Já temos cases no Brasil de áreas de contas médicas com 150 pessoas sendo otimizada para IA com 10 pessoas (e erra substancialmente menos). Já temos startups dedicadas apenas a agendamento e SAC em saúde bem como para anotações médicas. Portanto aqui a transformação será mais rápida, ainda que tenhamos os desafios de integrações de sistemas e os interesses contrários de quem toca a operação hoje. Por exemplo, a saúde nas empresas e a área RH. Não fará mais sentido as toneladas de papeis e documentos em sistemas diferentes para exigências legais diferentes e que mudam todos os dias. Não faz sentido dezenas de benefícios que não conversam entre si nem no que tange a jornada do usuário nem no que tange a documentação, integração e portabilidade. Já temos soluções para automação e cruzamento de toda documentação, cadastro e valor financeiro para RH e usuários. Agente [de IA] que lê documentos, integra os dados, identifica irregularidades e fraudes, grava nos sistemas adequados e faz as sugestões de jornada financeira e de saúde.


No suporte a decisão, os sistemas de IA já estão sendo usados para alertar sobre erros em prescrições e diagnósticos equivocados, mas a evolução será na integração prática dessas ferramentas no fluxo de trabalho. Não falar ou investir nisso será omissão. Grandes hospitais como Einstein, HCor e AC Camargo já investem nisso há anos e certamente irão usar em prol da segurança do paciente. Isso será diferencial não apenas de resultados em saúde, mas também de custo. Já que sabemos que o erro em saúde custa caro também do ponto de vista financeiro.


Em conteúdos e informação, acredito numa chuva de informações que pelo lado positivo irá ajudar a reduzir a assimetria de informação, mas que como efeito colateral teremos conteúdos errados espalhados com mais velocidade e com maior dificuldade de contestação. Esse é um ponto que parece menor, mas que é gigante em saúde. Desinformação e mentira custam caro tanto do ponto de vista financeiro, quanto de saúde. Com a IA, a velocidade e qualidade de conteúdos produzidos será exponencial. Imagine mandar uma mensagem automática com a voz do médico que atendeu o paciente e um texto super empático e de fácil entendimento das orientações. Fantástico! Agora, foi seu médico mesmo que enviou? Ou é fraude? Isso se replica no mundo de artigos científicos. Dados antes impossíveis de serem obtidos e novos dados (como os de wearables) permitindo novas conclusões. Do outro lado, cresce o desafio sobre a veracidade das informações e dos artigos, bem como autores.


Biotech e robôs são coisas menos tangíveis para agora. Muito mais transformadoras são as novas drogas e abordagens genéticas. Teremos de fato terapias mais efetivas. Já vemos grandes mudanças, da vacina da Covid a tratamentos de doenças raras ao prêmio Nobel de 2024 usando IA para desenvolver novas drogas. O acesso será a grande questão. E não tem como não falar em robôs humanoides fazendo atividades humanas em saúde nos próximos 10 anos, desde as ações mais simples como virar paciente no leito ou o cuidado de idosos.

 

Connext Health — Como você atua com IA e quais os benefícios gerados?


Salgado — Sempre acreditamos em inovação como um processo incremental que, se realizado de forma consistente e dentro da cultura da empresa, pode permitir grandes saltos em momentos específicos de grandes evoluções tecnológicas. Penso que estamos exatamente nesse momento. A 3778 nasceu como uma empresa puramente voltada para IA na saúde, incorporando serviços em saúde e já antevendo o conceito de Service as a Software, estando pronta para colher os frutos dessa vocação.


Começamos com maior intensidade em nossos processos administrativos internos, trazendo eficiência e qualidade. Hoje, contamos com um agente que digitaliza e captura dados de documentos, exames e prontuários, estratifica essas informações e as registra nos sistemas apropriados de clientes e do governo. Estamos falando de uma empresa que dobrou de tamanho e, atualmente, realiza essa operação com 20% do número de colaboradores de antes, cumprindo 98% dos SLAs nesse processo. Isso só foi possível devido aos últimos avanços em IA.

Hoje, talvez sejamos a única empresa do setor que opera totalmente baseada em dados. Ainda há muito a executar e melhorar, mas possuir informações de cada etapa da operação para análise e entendimento é um alicerce essencial para uma ampla automação por meio de agentes.


Há quatro anos, utilizamos preditores de pacientes crônicos, pacientes de alto custo, risco de afastamento, internação e reinternação, obtendo uma precisão próxima de 90%. Isso permite, de fato, identificar quem precisa de qual cuidado, em que intensidade e com qual propósito. Além disso, contamos com modelos antifraude.

Temos orgulho de também desenvolver projetos de pesquisa voltados à predição de resistência bacteriana, cálculo de idade em imagens cerebrais, predição de deterioração clínica e prevenção de escaras.

 

Connext Health — Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória e como chegou à IA.


Salgado — Sou médico do trabalho, mas muito cedo direcionei minha carreira para gestão. Fui um dos poucos da minha geração que, logo no início, foi nessa linha. Durante minhas experiências como executivo, em um projeto de inovação do Sírio-Libanês, tive oportunidade de conhecer e, então, integrar a Kunumi, uma startup mineira generalista de IA. Com o professor Nivio Ziviani (um dos fundadores da Kunumi), tive oportunidade de ingressar no universo da IA há mais de oito anos, ao lado de pessoas que já praticavam o estado da arte em tecnologia.

Daí, há seis anos, ocorreu a fundação da 3778, com foco em IA na saúde, nascendo dentro do Sírio-Libanês e também contando com o Mater Dei como clientes.


Ter dois clientes de excelência para começar também foi um divisor de águas para nós. Essa trajetória conta muito sobre nosso propósito e sobre como fazemos as coisas na 3778: conhecimento prático sobre gestão e processos de saúde, conhecimento técnico de saúde, conhecimento técnico de tecnologia e de design (proximidade com universidade). Por isso, foi natural aplicarmos IA desde o nosso primeiro dia, errando e acertando, mas principalmente aprendendo e estando prontos para acelerar o uso (algo que sabíamos que ocorreria, dada a natureza da tecnologia). Tudo isso, somado à certeza de que só um time diverso executa grandes planos — por isso, desde o início, contamos com sócios complementares.

 

Connext Health — Na educação de profissionais de saúde, médicos e lideranças, por que é importante saber e conhecer mais sobre IA?


Salgado — Não sei onde vi essa frase, mas gostei: “ignorar IA na saúde hoje é como dirigir sem GPS: você pode até chegar, mas vai se perder no caminho.” Conhecer IA não é sobre saber programar, é sobre entender como essas ferramentas impactam decisões e resultados. Para médicos, enfermeiros e profissionais da saúde significa:

  • menos sobrecarga: delegar tarefas burocráticas para IA;

  • mais empatia: sobra mais tempo para praticar empatia, além do auxílio prático das LLMs em melhorar nossa comunicação;

  • decisões mais seguras: IA como suporte para evitar erros.


E é inexorável — todos irão usar. Velocidade e qualidade serão definidoras. Trago aqui o “efeito ozempic” da IA, especialmente no mundo da saúde, que é o aumento da produtividade em todas as áreas correlatas para a entrega de um serviço de saúde: finanças, compras, jurídico etc. Mesmo no dia a dia de consultórios e plantões, o impacto será sentido.


O desafio é que a maioria dos cursos de saúde ainda ignora esse tópico e ainda estamos falando do básico. Já evoluímos, e muita gente — se não todos na área da saúde — já sabe o que é ChatGPT e já o utilizou. Mas, se perguntarmos o que é “Cloud”, muitas pessoas não têm ideia. Questões éticas e de segurança, então, ainda estão distantes. E aspectos práticos e simples de como usar a IA ainda não fazem parte do dia a dia da maioria dos profissionais. Estamos falando de algo como uma “nova internet” e ainda estamos ensinando como digitar o “www”.

 

Connext Health — Quais são os principais insights sobre IA e inovação na área da saúde para 2025?


Salgado — Para mim, será um ano de muito aprendizado prático e de muita evolução em pesquisas usando IA. O início de diversas iniciativas de Service as a Software. Do ponto de vista de aprendizado prático, temos diversas novas startups surgindo, já 100% AI Based, que colocarão seus serviços e tecnologia no mercado, provando ou não seus conceitos e soluções. Então, começaremos a ver o que de fato começará a gerar impacto.


Muitas empresas já existentes vão acelerar o uso e os resultados, mas também entender o que não funciona. Integrações de sistemas e dados, de fato, começarão a ser mais percebidas como diferencial. Bot que não integra em nada serve para pouca coisa. Haverá um aumento na procura de educação formal e prática. Se temos falta de teoria, imagine de prática.

Outro ponto é o aumento do desafio de separar o que realmente é real e gera valor da picaretagem.


Por último, se você é de qualquer setor relacionado à área da saúde e não faz uso ou nem escuta falar nada de IA perto de você, fique atento e mexa-se, ou a mudança pode chegar de uma vez para você.

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